Guerra da Ucrânia: análise da cobertura jornalística em um dos piores confrontos do século 21

Jornalismo

Ucrânia, 24 de fevereiro de 2022. O som das bombas russas explodindo por todo o país foi como um alarme anunciando o início de tempos sombrios no leste europeu. O ataque, chamado pelo presidente russo Vladimir Putin de “operação militar especial”, provocou uma crise sem precedentes no mundo todo, dando início à Guerra da Ucrânia.

O conflito, que se estende há mais de um mês, segue provocando mortes injustificadas de Donetsk e Lugansk, regiões separatistas, à capital Kiev, passando por Kharkiv, Mariupol e tantas outras cidades. Até o momento, mais de 10 milhões de ucranianos deixaram suas casas e partiram rumo ao desconhecido. 

Mães, filhos, filhas, avós, primos, sobrinhos, todos vivendo como refugiados em “casas alugadas” em países que não são o seu, na Europa e até mesmo do outro lado do mundo, no Brasil. E para relatar todos esses acontecimentos, jornalistas enfrentam diariamente os perigos de uma guerra, em busca de mostrar os fatos do dia a dia na Ucrânia.

Mas como está funcionando a cobertura jornalística em um dos piores confrontos do século XXI? É sobre isso que falaremos a seguir.

As redes sociais ajudam ou atrapalham?

Foi-se a época onde guerras eram travadas somente às claras, com inimigos conhecidos e em campos de batalha bem definidos. Na Ucrânia, as redes sociais dão voz a qualquer personagem que tenha um celular em mãos e uma conexão com a internet. No entanto, por mais que o alcance e a variedade das notícias tenha crescido, há o perigo de saber o que é ou não, de fato, verdade.

Porém, muita calma antes de crucificar tudo o que você vê no Facebook, Instagram, Twitter, TikTok, entre outros. Nem tudo o que está nas redes é falso, contudo, ter cautela e procurar fontes de informação confiáveis é sempre um ótimo remédio no combate às fake news.

Por mais que a inclusão digital tenha ajudado a transformar qualquer pessoa em uma possível fonte de informação verídica, a caça por likes e views pode sobrepor os princípios éticos e morais desses cidadãos. Nesse ponto, o trabalho jornalístico de qualidade é a chave para jogar luz na escuridão e tornar visíveis tanto as verdades quanto as mentiras sobre o conflito. Entretanto, não são só as redes um motivo de preocupação…

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Uma guerra de muitas frentes

Ataques por terra, água, ar, web e às mídias tradicionais. Na Ucrânia, o combate está sendo por muitas frentes e impondo dificuldades ainda maiores à transmissão de informações, o que prejudica  a cobertura jornalística e o seu compromisso em expor os fatos. 

O governo russo promove uma campanha de desinformação, altera fatos, divulga mentiras, censura seus próprios jornalistas e ataca com bombas torres de rádio e televisão ucranianas.

A Web também sofre. De acordo com a empresa Check Point, os ataques cibernéticos dentro da Ucrânia registraram um aumento de 20% desde o início da guerra. Fora do país, os ataques de hackers aumentaram 21%. Na primeira semana de guerra, a ofensiva russa impôs um aumento de 196% no número de ataques cibernéticos ao serviço militar ucraniano.

Além dos militares, os sites governamentais também são os que mais sofrem com o ataque. Por vezes, endereços que servem como fonte de informação são tirados do ar, o que deixa boa parte da população às cegas, sem saber o que fazer ou para onde ir. A isso se dá o nome de “guerra híbrida”, cujo conceito surgiu ainda no início dos anos 2000, após o atentado ao World Trade Center – as Torres Gêmeas -, nos Estados Unidos.

Os perigos da cobertura jornalística na Guerra da Ucrânia

Legenda: Pierre, Olexandra, Brent, Yevhenii e Oksana morreram durante a cobertura da guerra.

Em sua essência profissional e pessoal, os bons jornalistas buscam as melhores histórias nos lugares onde a maioria das pessoas menos espera. Em uma guerra isso não é diferente. O perigo, contudo, é real e, infelizmente, letal.

Desde o início do conflito no leste europeu, cinco jornalistas perderam a vida. Além deles, até o dia 24 de março de 2022, haviam sido registrados 148 crimes contra profissionais de imprensa e veículos de comunicação. O Centro de Comunicação Estratégica e Segurança da Informação (EFE) ucraniano também relatou que sete jornalistas ficaram feridos durante bombardeios, seis foram sequestrados e um está desaparecido.

A grande maioria dos ataques parte do exército russo. Mas nem mesmo a ameaça de uma das maiores forças armadas do mundo fez com que o cinegrafista Pierre Zakrzewski, de 55 anos, a repórter Olexandra Kuvshinova, de 24, o jornalista e cineasta Brent Renault, de 50,  o cinegrafista Yevhenii Sakun, de 49, e a repórter Oksana Baulina, de 42 anos, deixassem de cumprir com seus deveres profissionais até sua infortunada morte.

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Análise: uma guerra como nenhuma outra

Desde o ataque de 2001 às Torres Gêmeas, nenhum outro conflito armado entre países chamou mais a atenção do que a Guerra da Ucrânia. Mesmo que a invasão americana no Oriente Médio tenha se estendido por anos, a repercussão por parte da mídia internacional nunca classificou o embate como um perigo para o mundo todo.

Me pergunto se a não sanção de outros países aos Estados Unidos foi justificada por anos pelo ataque de 11 de setembro de 2001 e o argumento mais forte é de que os americanos estavam em seu direito de revidar. A Rússia, entretanto, prontamente foi excluída da comunidade internacional diante de seus atos infundados ao atacar um país soberano que nada lhe fez, a não ser ameaçar deixar o passado para trás.

Fato é que a cobertura por parte da imprensa na Ucrânia é a maior que o mundo moderno já viu. Nunca antes houve um uso tão grande das tecnologias por parte de jornalistas para cobrir um evento dessa magnitude. Vemos notícias quase que de minuto em minuto, em tempo real, na web. Assim como no campo de batalha, para os profissionais da comunicação cada centímetro de terra avançado é uma possibilidade de novas conquistas, como matérias exclusivas, contando histórias impressionantes.  

Uma negociação sem fim

Na manhã de 29 de março houve uma nova rodada de negociações entre Ucrânia e Rússia, na Turquia. Por mais que fontes oficiais afirmem ter ocorrido um avanço nas tratativas para um cessar-fogo e acalmar a situação na Crimeia – território ucraniano invadido e anexado pela Rússia em 2014 -, também há a informação de que os dois países estenderão as conversas por, pelo menos, mais duas semanas.

Enquanto isso, ucranianos assistem de perto o seu país ser destruído pelos russos. A guerra permanece causando efeitos terríveis na economia do planeta. Os nervos seguem à flor da pele diante da dúvida sobre a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. 

E os jornalistas? Seguem cumprindo com seu papel de documentar os erros do presente, na tentativa de evitar que se repitam no futuro.  

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